9.1.07

Quero poder escolher!!!

Aproxima-se uma data importante para o nosso país, uma data em que podemos dar mais um passo em direcção à civilização e liberdade ou podemos continuar estagnados e agarrados a valores desactualizados e despropositados no presente... aproxima-se o referendo nacional em que os portugueses sentenciam a resposta à seguinte questão: " Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras 10 semanas, em estabelecimento legalmente autorizado?".

Li, há dias, um texto escrito por alguém que me é muito querido (Caditos eu mantenho o teu anonimato) em que me deparei com ideias bem estruturadas e observações acutilantes, embora que com termos um pouco vulgares, sobre este tema, o que me levou a pensar que me devia manifestar num espaço em que reina a minha liberdade de expressão sem qualquer receio de ferir susceptibilidades, só lê quem quer...

Pois bem... cá vai!

Tenho ouvido barbaridades, pelo menos aos meus ouvidos, sobre este tema... uns chamam-lhe homicidio, outros falta de moral e outros ainda pecado, não concordo com nenhum destes rótulos!

Não sou mãe, mas sou mulher! Como mulher sei que a decisão de um aborto não é tomada com leviandade, de ânimo leve... deixa marcas profundas que nunca serão realmente saradas!

Oiço os movimentos pró-vida (o que quer que isto seja) defender que é criminoso o aborto porque é acabar com uma vida... eu pergunto se criminoso não é ver todos os anos inúmeras crianças abandonadas, ler nos jornais "criança encontrada no lixo" ou " mãe mata recém nascido numa casa de banho pública" e não criar uma estrutura que permita diminuir estes casos com um acto tão simples como a despenalização da interrupção voluntária da gravidez nas primeiras 10 semanas?

Será que as preocupações / prioridades não estão mal estabelecidas? O que é mais grave? não deixar vir um filho ao mundo ou maltratá-lo uma vida inteira?

O que está em causa não é o aborto feito em cada esquina e ao desbarato... mas sim casos particulares em que não existem condições, de diversa ordem, para que nasça uma criança.

A decisão de abortar ou não deve ser individual... não podemos decidir pelos outros... se votarmos NÃO, estamos a condicionar todos os que têm motivos para considerar esta hipótese e a pensar apenas nos que não querem realizar esta prática, enquanto que ( e uma vez que tanto apregoamos a liberdade conquistada no 25 de abril) ao dizermos SIM estamos a dar a cada um a LIBERDADE de escolher... o direito de fazer o que acha melhor, sendo que no fundo isso não prejudica mais ninguém senão a si próprio.

Todos sabemos que anualmente morrem imensas mulheres vítimas de abortos clandestinos, feitos sem cuidados minimos e é escusado fingir que essa realidade é desconhecida porque espreita em cada esquina... diariamente somos bombardeados nos jornais nacionais com publicidade a clinicas espanholas de interrupção voluntária da gravidez, a que alguns portugueses mais abonados recorrem sem hesitar, afinal espanha é ali ao lado e a interpretação da lei é bem diferente...

Então estamos a perder em ainda mais pontos... além de estarmos com as mentes fechadas e paradas numa realidade social imaginária em que todas as crianças são desejadas e o apoio social é milagroso, ainda estamos a afastar mais uma fonte de investimento económico.

Se todas as mulheres que fazem um aborto clandestino pagam balúrdios para contornar a lei, não seria mais simples se não tivessem de fazer este desvio e as clinicas que pagar impostos ao estado pelos serviços que presta?

Ninguém é a favor do aborto... ninguém anda por aí a engravidar pelo prazer de em seguida abortar... devemos é ser conscientes o suficiente para saber que a liberdade de escolha é um direito que nos deve assistir, que cada ser é livre de fazer as suas escolhas e arcar com as consequências que daí vierem...

Choca-me, contudo, ver pessoal novo que se depara diariamente com uma realidade bem massacrada... em que vêem toxicodependentes grávidas, em que assistem a crianças abusadas e maltratadas, em que são confrontadas com fome e miséria em familias numerosas e que a taxa de mães adolescentes é assustadora, assumir-se como anti-aborto e adoptar argumentos descabidos e descontextualizados à nossa realidade social.

Sou mulher, o corpo é meu, a escolha deve ser minha!

Eu voto SIM pelo direito à escolha, pelo direito à decisão!

Não se esqueçam... dia 11 de fevereiro vão às urnas e ponham portugal no mapa como um país de pessoas inteligentes e esclarecidas...

6 comments:

Anonymous said...

Nem mais! Era isso que eu queria dizer! Só que de uma forma mais... brejeira :). E obrigado por me manteres o anonimato lol.

Anonymous said...

Tal como prometido, ca vai um comentario :) Tou a adorar o teu blog! Ate agora assino por baixo de tudo o que escreveste. E acho bem que expresses a tua opiniao por mais controversa que seja. Acho que e para isso que existem blogs, nao? Ainda so falei de uma coisa no meu, que nao e nem de perto tao controverso quanto este e ja deu pano para mangas! Obrigada pelo teu comentario. Foi muito util para eu perceber que passei a mensagem que queria. E desculpem a falta de acentos mas os teclados ingleses nao valem nada... Jks

Anonymous said...

Olá!

Tive a ver o debate sobre o aborto na televisão e meu deus, há com cada argumento mais parvo (tanto do sim como do não)!

Havia um argumento por parte do "não" que referia que o "sim" iria fazer estourar a taxa de aborto, que as pessoas iam andar a fazer essas coisas do demo dos bébés e tal à toa, sem se preocuparem com nada. Eu sinceramente não sei se choro ou se ria porque posso ser eu que estou a ver as coisas de uma forma menos certa: a meu ver uma mulher que vá fazer um aborto (e também o homem, mas não "directamente") sofre um processo todo ele traumatizante a nível físico e psicológico. Vocês, mulheres deste blogue, digam-me por favor que não estou a sonhar e que de facto não é uma alternativa ao preservativo o aborto no dia seguinte! Sinceramente acho uma estupidez sequer que se diga tal argumento.

A favor do sim há argumentos também maus, mas eu sendo um "sim" óbvio que não vejo tantos ou pelo menos não noto tanto.

Acima de tudo há que pensar uma coisa.
Imaginemos que sou uma mulher (mas boa, mesmo boa) e fiquei grávida sem querer!! Não sei como, ai meu deus, ai, ui! Tá fora de questão ter este filho ou pelo menos criá-lo. Vamos considerar que tenho o filho: abandono-o ou ponho-o para adopção. Considerando a segunda apenas e o mundo era um sítio perfeito onde não existe falta de humanidade, considerando a primeira e mais realista, bem..todos sabemos se a criança não morre terá uma vida bem tramada na maior parte dos casos.

Agora decido pelo aborto mas é ilega.
É isso que me vai travar? Espanha a menos de 500kms e pior, conheço a prima da cunhada da tia do amigo que sabe fazer abortos caseiros e lá vou eu. Posso morrer, pode o aborto ser mal feito e ficar com problemas o resto da vida e pior, estou a pagar para isto e a enriquecer uma qualquer pseudo-pessoa-enfermeira mercenária a aproveitar-se da m#r"a de uma lei que só beneficia quem não deve ser beneficiado!

Perdoem-me os "nãos", mas não me venham dizer que são pró-vida quando às 10 semanas ainda o feto nem sequer se pode chamar ser humano e mais, quando se este chega aos 9 meses e sai da barriga da mãe como por milagre se não é desejado pode mesmo acabar num contentor passado então os ultimos minutos da sua curta vida entre os cheiros e os abandonos de uma lei desprovida de lógica.

Pró-vida?

Bah.

RicardoF

Palhaço said...

Pró-vida RicardoF?

Eles são é parvos!
O argumento contradiz-se na sua raiz, senão vê:
A lei actual prevê a interrupção da gravidez ás 24 semanas em caso de violação ou má formação!

O resultado de uma violação não é uma vida?!
Um "tecla 3" não tem direito à vida?!


Eles são pró vida, mas.....

Ana said...

É bom saber que estou rodeada de pessoas inteligentes e esclarecidas, ainda que uma delas gostasse de ser uma gaja, naturalmente boa mas mm mm boa!

Ainda ontem assisti novamente ao debate televisivo sobre este tema e mais uma vez o discurso do não foi... bla bla bla vida, bla bla bla extinguir uma vida... bla bla bla não ao aborto. Desta feita introduziram uma variante oportunista a 6 dias do referendo!
Se votarmos não eles comprometem-se que, embora o aborto continue a ser crime, a mulher e notificada como tendo infringido a lei mas não e levada a tribunal nem cumpre pena! FIXE! atenção criminosos do meu país o precedente que se precisava está á espreita! Qual é a moralidade de julgar um qualquer crime quando se abrem na lei rasgões descarados de conveniência?
A interrupção voluntária da gravidez não pode ser crime! Como dizia uma sra que defendia o não ao referendo "o aborto é o resultado de um conflito de interesses entre a mãe e o filho" e no fundo e verdade... mas como em qualquer conflito de interesses entre mãe e filho (ainda sem poder de sustentabilidade própria) quem ganha? A MÃE!
Vou ficar-me por aqui que isto ja vai longo!
Cá voltarei dia 11 para elogiar os portugueses ou para os insultar!!!

Anonymous said...

"Se votarmos não eles comprometem-se que, embora o aborto continue a ser crime, a mulher e notificada como tendo infringido a lei mas não e levada a tribunal nem cumpre pena!"

... mas esse é precisamente o problema do referendo (e já o foi anteriormente). Ele peca por estupidez pura! Na realidade o que se está a referendar é a despenalização.. e não a descriminalização... ou seja, quem votar sim, está a votar na despenalização do aborto: legalmente, continua a ser crime, apenas não é penalizável.

Já agora, se existe à priori essa garantia, só me comprova que o referendo é totalmente inútil, pois o resultado legislativo, será exactamente o mesmo independentemente do resultado das urnas :P

Bjocas :)

Zé Pedro

P.S. Não estou nem a defender o sim, nem o não... estou simplesmente a referir a estupidez e a patetice do referendo em si...